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As finanças do Flamengo em 2022: com mais de R$ 1 bilhão em receita e dívida sob controle, dinheiro não é problema na Gávea

As finanças do Flamengo em 2022: com mais de R$ 1 bilhão em receita e dívida sob controle, dinheiro não é problema na Gávea
Mesmo sendo um dos clubes com maior número de títulos na hstória recente do futebol brasileiro, o Flamengo frequentemente enfrenta períodos de instabilidade conhecidos como "crise na Gávea". Demissões de treinadores, desentendimentos entre jogadores e dirigentes, e questões relacionadas ao futebol têm sido recorrentes.

Nessas circunstâncias turbulentas, o dinheiro desempenha um papel secundário. Na verdade, se no passado o clube rubro-negro enfrentava crises financeiras devido à escassez de recursos, atualmente a situação é oposta. A área financeira do clube é bem gerida e não suscita críticas.

O primeiro destaque é sempre a receita. Com mais de R$ 1 bilhão em faturamento, o Flamengo é o único clube brasileiro a atingir essa marca, e vem mantendo esse patamar pelo segundo ano consecutivo. Além disso, o clube registra um superávit de mais de R$ 100 milhões, o que se tornou uma rotina.

Embora os gastos também sejam elevados, sendo os maiores do país, não há motivos para questionamentos. Como uma associação civil sem fins lucrativos, o Flamengo não tem acionistas em busca de dividendos. Sua finalidade é exclusivamente esportiva, e o dinheiro gerado em outras áreas continua sendo investido no clube.

O principal risco para um clube nessa situação é se deixar levar pelos gastos excessivos, resultando em prejuízos e perda gradual do controle sobre o endividamento. No entanto, esse não é o caso do Flamengo.

Com uma dívida em constante redução desde o início da pandemia e um montante exorbitante em caixa – algo raro para um clube de futebol brasileiro, com quase R$ 240 milhões disponíveis –, o clube está em uma posição confortável para enfrentar o presente e o futuro.

A questão em aberto é como esse dinheiro será utilizado. Será iniciado um novo ciclo de investimentos em jogadores? Será que o plano de ter um estádio próprio seguirá adiante com parte desses recursos? O Flamengo tem se preparado financeiramente para quê? Os próximos capítulos responderão a essas perguntas. Por enquanto, os detalhes do episódio atual podem ser encontrados nas demonstrações contábeis mais recentes, referentes a 2022.

Panorama Financeiro
A relação entre faturamento (total arrecadado em cada ano) e endividamento (montante a pagar até o último dia de cada exercício) raramente foi tão favorável ao Flamengo como agora. É como se um indivíduo tivesse alcançado o maior salário de sua vida e, ao mesmo tempo, pagado suas dívidas, abrindo espaço no orçamento.

Se analisarmos os números em ciclos, a diretoria do Flamengo iniciou um forte ciclo de investimentos em 2019 e vem reduzindo gradualmente suas obrigações, ano após ano, desde o início da pandemia. Em 2023, com menos compromissos acumulados, é possível iniciar um novo ciclo de investimentos, especialmente em jogadores.

Receitas
Os direitos de transmissão e premiações são as maiores fontes de receita no futebol brasileiro, ultrapassando quase meio bilhão em 2022. Por um lado, o contrato do Flamengo no Campeonato Brasileiro é o maior do país, com garantia mínima em pay-per-view que seus adversários não possuem. Por outro lado, as conquistas da Copa do Brasil e da Libertadores contribuíram significativamente para esses pagamentos, já que o clube foi campeão em ambas as competições.

A área comercial também é uma das que mais fatura no futebol nacional, incluindo patrocínios e licenciamentos. Em comparação com o ano anterior, o Flamengo registrou um aumento de R$ 50 milhões nessa área.

Com a reabertura total dos estádios após a pandemia, o Maracanã voltou a ser um grande gerador de receita para o clube. As bilheterias saltaram de R$ 28 milhões em 2021 para R$ 101 milhões em 2022. O estádio passou a gerar mais receitas, e o programa de sócio-torcedor mais do que dobrou seu valor. O Flamengo é o clube que mais fatura com sua torcida no país.

As transferências de jogadores foram a única área em que o Flamengo arrecadou menos dinheiro do que na temporada anterior. No entanto, isso não significa que a receita líquida proveniente das vendas de direitos tenha sido baixa. Com valores acima de R$ 100 milhões, o clube continua sendo um dos que mais fatura com essas transações.

Dinheiro e Desempenho
Quanto mais se arrecada, mais se gasta. Quanto maiores os gastos no futebol, maior a probabilidade de vitória dentro de campo. No caso do Flamengo, há particularidades em relação à folha salarial.

Seguindo o método adotado pelo ge, a folha salarial do Flamengo engloba todos os aspectos relacionados à remuneração no futebol, como salários, encargos, direitos de imagem e de arena, premiações e deduções previdenciárias.

Como o clube foi campeão tanto da Copa do Brasil quanto da Libertadores, é natural que a diretoria divida as premiações com o elenco vencedor. Contabilmente, isso infla a folha salarial devido às bonificações concedidas aos jogadores. Já os direitos de arena e INSS são calculados com base na receita. Quanto mais o clube fatura, maior é o gasto nessas áreas.

Essas explicações são necessárias para compreender a natureza dos gastos. Existem partes da folha salarial decididas pela diretoria, como os salários, os encargos e os direitos de imagem. Outras partes estão relacionadas ao sucesso esportivo (premiações) ou são condicionadas à receita (direito de arena e INSS).

Dito isso, o Flamengo teve em 2022 a maior folha salarial do futebol brasileiro. Os resultados condizentes com o favoritismo conferido pelo dinheiro ficaram evidentes com as conquistas da Copa do Brasil e da Libertadores. O quinto lugar no Campeonato Brasileiro não pode ser considerado um demérito.

Dívidas
É ainda mais evidente que o Flamengo está se preparando para um novo ciclo de investimentos ao analisarmos seu endividamento, especialmente seu perfil em relação aos prazos de vencimento. No ano passado, as dívidas de curto prazo (a serem pagas em menos de um ano) foram reduzidas.

O cálculo da dívida é realizado subtraindo-se o valor a pagar do montante disponível em caixa. Embora o Flamengo tenha obrigações de curto prazo consideráveis, próximas a R$ 300 milhões, ele acumula um montante considerável em caixa e investimentos financeiros, chegando a quase R$ 240 milhões. Isso resulta em um indicador altamente favorável.

Utilizando novamente a metáfora de um cidadão comum para facilitar a compreensão, é como se essa pessoa tivesse dívidas a pagar em breve, mas também tivesse uma quantia significativa em sua conta corrente. No dia do pagamento, basta utilizar o dinheiro disponível e resolver o problema. O que faltar pode ser resolvido com os salários que continuam a ser recebidos todos os meses.

Entre as dívidas bancárias estão empréstimos de instituições financeiras. Considerando as altas taxas de juros no Brasil, não tem sido recomendável para ninguém manter dívidas dessa natureza. E o Flamengo seguiu essa lógica. Em 2022, mais uma vez, a diretoria reduziu suas pendências nessa área.

Os parcelamentos fiscais, que chegaram a ser de R$ 400 milhões há uma década, têm sido reduzidos ano após ano. Desde que as parcelas continuem sendo pagas, não há motivo para preocupações.

As obrigações trabalhistas são correntes, e não dívidas no sentido popular da palavra, como atrasos salariais. São chamadas assim porque os salários e encargos referentes ao mês de dezembro são pagos somente em janeiro. No fechamento do balanço, em 31 de dezembro, esses valores são contabilizados como passivos. Como o montante é muito baixo, não há indícios de irresponsabilidade financeira.

A categoria "outros" engloba dívidas com fornecedores, agentes e clubes, sendo a maior parte relacionada à compra de direitos econômicos e federativos de jogadores. Considerando que o Flamengo investe muito em reforços, é natural que essa linha se destaque.

As contingências correspondem a ações judiciais em andamento, nas quais o departamento jurídico do clube considera que a probabilidade de derrota é alta. Portanto, foi provisionado um valor de R$ 100 milhões para o pagamento desses processos quando forem concluídos. Como o sistema judiciário brasileiro pode levar vários anos para finalizar tais casos, essa dívida é classificada como de longo prazo.

Fonte: Globo Esporte
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