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Casos de cárcere privado com transmissão ao vivo crescem na BA; em uma das situações, bebê foi feito refém por duas horas


O número de ocorrências de cárcere privado com transmissão ao vivo pela internet tem acontecido com frequência na Bahia. Criminosos em fuga invadem casas e fazem moradores reféns. Somente em Salvador, de janeiro até 11 de setembro deste ano, 17 casos de sequestro foram registrados, de acordo com o Batalhão de Operações Especiais (Bope). Em um deles, um bebê foi feito refém por cerca de duas horas.

Até três anos atrás, era comum os suspeitos entrarem nas casas dos reféns e pedirem a presença da imprensa, familiares e advogados para negociarem rendição. No entanto, os criminosos passaram a utilizar as mídias sociais.

"A casa tá cercada aqui, ó. O refém vai morrer. Ele só sai daqui com a reportagem", disse um criminoso durante uma transmissão.
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O primeiro caso de cárcere privado transmitido ao vivo no estado foi registrado em 2021, no bairro de Amaralina, pelo Bope. A partir deste sequestro, o modelo se tornou comum e passou a ser usado nas negociações com a polícia.

Em 2022, na cidade de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, a polícia negociou rendição com um suspeito ao entregar um carregador de aparelho celular para ele.

De nove casos de cárcere privado registrados em 2021, cinco deles aconteceram por transmissão ao vivo. No primeiro semestre de 2022, foram três ocorrências e duas delas com através de lives. Neste ano, no mesmo período, das 17 situações de sequestro em 14 os criminosos fizeram transmissão ao vivo.

"Todas essas ocorrências não tiveram nenhum tipo de ação com resultado morte. Já foram mais de 126 reféns libertados", informou o Major Luiz Henrique Pires.

Os bairros de Tancredo Neves e Engomadeira concentram 90% dos casos. Em 2023, os criminosos também fizeram reféns nas localidades de Águas Claras e Uruguai. Nos últimos três anos, três ocorrências desse tipo foram registrados no interior do estado.

O coordenador do Observatório de Segurança da Bahia, Dudu Ribeiro, acredita que é importante a responsabilização das empresas responsáveis pelas plataformas digitais no gerenciamento dos conteúdos e a regulação das mídias.

"Nós estamos falando de um cenário que há altíssima letalidade promovida pelos agentes da segurança. Então, existe também um movimento de auto proteção quando se constrói essas ações virtuais", disse Dudu Ribeiro.

Luiz Henrique Pires, Major da Polícia Militar, fez uma alerta e informou que acompanhar esse tipo de transmissão não é crime, mas é monitorada pelo Bope e isso pode gerar momentos de tensão. Ele acredita que isso pode dificultar a rendição dos criminosos.

"Já tivemos ocorrências com lives com quase 5 mil pessoas. Isso gera um aumento do nível de estresse e engajamento dos causadores do cárcere privado porque eles acreditam que está aumentando o nível de visualizações", relatou o policial.

Para o advogado criminalista Luiz Requião, as transmissões não deveriam ser vistas e compartilhadas pela população porque, para ele, isto aumenta a sensação de medo proporcionada pelos criminosos.

"Quanto mais você compartilha, divulga e encaminha para outras pessoas este objetivo está sendo cumprido. Isto é uma tática de guerrilha. É você inserir o medo na pessoa. Quanto mais medo eu conseguir inserir, mais poder eu tenho", disse o advogado.


Bebê feito refém
Na noite de quarta-feira (20), dois homens foram presos em flagrante após fazer um bebê refém em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Eles estavam em fuga, entraram em um condomínio residencial e arrombaram o apartamento.

A mãe da criança conseguiu fugir, mas a criança foi tomada pelos homens, que estavam armados. Toda a ação foi transmitida em uma live nas redes sociais.

Após duas horas de negociação, a criança foi liberada e os homens, presos. Com eles, foram apreendidos uma pistola, um simulacro de arma de fogo, 50 munições, quatro celulares, roupas camufladas e uma luva.

A dupla teve prisão preventiva decretada e segue presa nesta quinta-feira (21).

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